Entenda como o Acordo de Paris molda o futuro da ação climática mundial
O meio ambiente é a base da vida no planeta. Ele fornece os recursos naturais essenciais à sobrevivência humana, como água, ar, alimentos, matérias-primas e energia, além de abrigar uma imensa biodiversidade que sustenta o equilíbrio dos ecossistemas.
Neste contexto, a conservação ambiental é um pilar fundamental para a saúde pública, segurança alimentar, desenvolvimento econômico e para o bem-estar das gerações presentes e futuras.
O cumprimento das metas do Acordo de Paris — que visam limitar o aquecimento global e enfrentar os impactos das mudanças climáticas — depende diretamente da proteção dos ecossistemas e do uso sustentável dos recursos naturais.
Assim, a preservação ambiental não é apenas uma questão ecológica, mas uma estratégia essencial para garantir um futuro viável e resiliente para toda a humanidade.
O que é o Acordo de Paris?
O Acordo de Paris é um tratado internacional adotado em 2015, durante a 21ª Conferência das Partes da ONU sobre Mudanças Climáticas (COP21). Seu objetivo central é conter o aumento da temperatura média global abaixo de 2°C em relação aos níveis pré-industriais, buscando limitar esse aquecimento a 1,5°C.
Esse compromisso representa um marco histórico na cooperação global contra as mudanças climáticas, unindo países em prol de metas comuns de redução de emissões e construção de um futuro mais sustentável.
Compromissos climáticos: metas nacionais e responsabilidade global
No âmbito do Acordo de Paris, cada país signatário se compromete a estabelecer suas próprias metas climáticas, conhecidas como Contribuições Nacionalmente Determinadas (NDCs).
Essas metas representam os esforços nacionais para reduzir emissões de gases de efeito estufa, adaptar-se aos impactos das mudanças climáticas e promover o desenvolvimento sustentável.
As NDCs devem ser atualizadas a cada cinco anos, sendo que cada nova versão deve refletir avanços em relação à anterior. Essa lógica progressiva, conhecida como “mecanismo de ambição crescente”, é uma das bases do Acordo.
Embora o tratado não preveja sanções legais para países que não cumprirem suas metas, ele se apoia em dois pilares fundamentais: a transparência e a pressão internacional. Os países devem relatar regularmente seus avanços, permitindo o monitoramento público e o fortalecimento da responsabilidade coletiva.
O Acordo também incentiva o apoio técnico e financeiro aos países em desenvolvimento, reconhecendo as desigualdades históricas nas emissões e na capacidade de resposta climática.
Nesse sentido, o cumprimento efetivo das NDCs é essencial para que o mundo tenha chances reais de manter o aquecimento global dentro dos limites acordados.
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SAIBA MAIS
Justiça climática e financiamento internacional
O Acordo de Paris incorpora em sua essência o princípio da justiça climática, ao reconhecer que os impactos das mudanças climáticas não são distribuídos de forma igualitária entre os países.
As nações em desenvolvimento — muitas vezes as menos responsáveis pelas emissões de gases de efeito estufa — são também as mais vulneráveis aos seus efeitos (secas, enchentes, perda de biodiversidade e insegurança alimentar).
Com base nesse reconhecimento, o Acordo estabelece que os países desenvolvidos têm a responsabilidade de liderar a mobilização de recursos financeiros, tecnológicos e de capacitação para apoiar ações climáticas nos países em desenvolvimento.
Um compromisso central é mobilizar US$ 100 bilhões anuais até 2025, de fontes públicas e privadas, para financiar mitigação e adaptação climática, especialmente em países vulneráveis, apesar dos desafios existentes.
Além do apoio financeiro direto, o Acordo de Paris promove o fortalecimento de mecanismos como o Fundo Verde para o Clima (Green Climate Fund) e incentiva a criação de estratégias de desenvolvimento resilientes e de baixo carbono.
O Acordo também prevê o fortalecimento da cooperação internacional na transferência de tecnologias limpas, na formação de capacidades locais e no acesso a dados climáticos.
A justiça climática, portanto, é uma condição estrutural para o sucesso do Acordo de Paris, pois sem inclusão, equidade e solidariedade global, os esforços de mitigação e adaptação perdem sua eficácia e legitimidade.
O papel do Brasil no Acordo de Paris
O Brasil ocupa uma posição estratégica no combate às mudanças climáticas e tem um papel crucial na implementação bem-sucedida do Acordo de Paris.
Em suas NDCs, o país se comprometeu a restaurar 12 milhões de hectares de florestas até 2030, eliminar o desmatamento ilegal, ampliar o uso de energias renováveis e reduzir as emissões de gases de efeito estufa em 50% até 2030.
Esses compromissos refletem o potencial do Brasil para liderar uma transição global justa e sustentável, que abriga a maior biodiversidade do planeta e uma das matrizes energéticas mais limpas do mundo.
Como exemplos de matrizes energéticas limpas, destacam-se a energia hidráulica, eólica, solar e o uso de biocombustíveis avançados.
Além disso, o Brasil é referência mundial em tecnologias de agricultura que estocam carbono no solo, como o plantio direto, integração lavoura-pecuária-floresta (ILPF) e a fixação biológica de nitrogênio.
Apesar dessas vantagens, relatórios recentes apontam que o país ainda enfrenta sérios desafios para alcançar suas metas, especialmente no que diz respeito ao desmatamento na Amazônia e à implementação das políticas ambientais.
Além disso, a fragilidade na governança ambiental, a falta de investimentos consistentes e as mudanças nos marcos regulatórios comprometem o ritmo de avanços necessários.
No entanto, há sinais positivos. O fortalecimento de instituições ambientais, a ampliação de áreas protegidas e a cooperação internacional têm reaberto caminhos para que o Brasil retome uma posição de liderança climática no cenário global.
Nesse sentido, o Brasil é uma potência ambiental com capacidade de transformar metas climáticas em oportunidades reais de desenvolvimento sustentável e inclusão social.
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SAIBA MAIS
Transição energética e o mercado de carbono
A transição para uma economia de baixo carbono é um dos pilares do Acordo de Paris, e envolve substituir progressivamente os combustíveis fósseis por fontes de energia renováveis (energia solar, eólica, biomassa e hidrelétrica).
Além disso, visa promover a eficiência energética em todos os setores produtivos. Portanto, essa transição exige reorganização de modelos econômicos, padrões de consumo e sistemas de financiamento.
Outro instrumento essencial para viabilizar essa transição é a criação de mercados de carbono regulados, sistema criado por governos que impõe limites às emissões de gases de efeito estufa, permitindo a compra e venda de créditos entre empresas para cumprir metas.
Essa lógica de compensação cria incentivos econômicos reais para a preservação de florestas, adoção de energias renováveis e práticas sustentáveis.
O artigo 6 do Acordo de Paris estabelece as bases para esse mecanismo internacional de troca voluntária de créditos de carbono, embora os detalhes sobre sua regulamentação tenham sido definidos especialmente na COP26.
Esses mercados devem ser transparentes, evitar a dupla contagem de emissões e garantir benefícios sociais e ambientais adicionais.
No caso do Brasil, o país tem potencial significativo nesse cenário por meio de uma das matrizes energéticas mais limpas do mundo e capacidade de gerar créditos de carbono florestais e agrícolas.
Essas metas podem ser alcançadas por meio de programas como a Recuperação de Áreas Degradadas, a preservação da Amazônia, e práticas de agricultura regenerativa.
A regulamentação do mercado de carbono nacional, em debate no Congresso, poderá posicionar o Brasil como um dos grandes ofertantes globais de créditos certificados e confiáveis.
Em suma, a transição energética e o mercado de carbono não são apenas ferramentas técnicas — são motores de transformação estrutural, capazes de alinhar crescimento econômico com responsabilidade climática.
Avanços e desafios da implementação global
Desde sua adoção, o Acordo de Paris foi ratificado por mais de 190 países, consolidando-se como o maior pacto climático internacional da história.
Esse compromisso representa, portanto, um avanço diplomático de consenso inédito sobre a necessidade de agir coletivamente contra as mudanças climáticas.
Vários países têm implementado políticas públicas de descarbonização, transição energética e adaptação climática.
Exemplos incluem o avanço da energia solar em países como Índia e China, o plano europeu “Green Deal”, e os compromissos nacionais atualizados por diversos países durante as últimas Conferências das Partes (COPs).
No entanto, os desafios de implementação permanecem significativos. O cumprimento das Contribuições Nacionalmente Determinadas (NDCs) ainda é desigual, e muitos países não estão no caminho para atingir suas metas.
De acordo com relatórios do IPCC e do UNEP Emissions Gap, as emissões globais de gases de efeito estufa continuam em patamares elevados, colocando em risco o limite de 1,5°C de aquecimento global — considerado o limiar seguro para evitar impactos climáticos catastróficos.
Outro desafio crítico é a lacuna de financiamento climático, especialmente para países em desenvolvimento que têm menos recursos para adaptar suas economias e proteger suas populações.
Embora o Acordo de Paris tenha previsto o repasse de US$ 100 bilhões anuais pelos países desenvolvidos, esse valor ainda não foi plenamente alcançado nem distribuído de forma justa.
A implementação efetiva do Acordo exige ação coordenada, transparente e inclusiva, incluindo monitoramento contínuo, revisão periódica das metas nacionais e cooperação técnica entre países.
Além disso, o engajamento de empresas, cidades e comunidades locais são medidas fundamentais para avançar rumo a um futuro climático seguro e justo.
Portanto, o sucesso do Acordo de Paris vai além da diplomacia, mas da capacidade global de transformar compromissos em ações concretas, com base em ciência, equidade e urgência.
Como o Acordo de Paris impacta você?
Embora pareça um tratado entre governos, o Acordo de Paris tem efeitos diretos na vida das pessoas — inclusive na sua.
As metas climáticas assumidas pelos países signatários influenciam políticas públicas e econômicas que moldam o modo como nos locomovemos, produzimos alimentos, consumimos energia e lidamos com o lixo.
Por exemplo, medidas como incentivos fiscais para carros elétricos, restrições ao uso de combustíveis fósseis, subsídios à energia solar residencial, e regulações sobre embalagens e alimentos ultraprocessados são impulsionadas por compromissos assumidos no âmbito do Acordo.
Na agricultura, os impactos vão desde o fomento à produção agroecológica até o estímulo ao uso de técnicas regenerativas, que conservam o solo e reduzem emissões de gases de efeito estufa.
Já nas cidades, o acordo influencia a adoção de infraestruturas verdes, transporte coletivo mais limpo e políticas de eficiência energética em prédios públicos e privados.
Em última análise, o Acordo de Paris é um chamado para a transformação coletiva, que começa com ações individuais informadas e responsáveis. Afinal, proteger o clima é também garantir qualidade de vida, saúde e segurança para as próximas gerações.
Referências:
BRASIL. Ministério do Meio Ambiente. Acordo de Paris. Disponível em: https://antigo.mma.gov.br/clima/convencao-das-nacoes-unidas/acordo-de-paris.html. Acesso em: 16 jun. 2025.
BRASIL. Comitê Organizador da COP30. Contribuições Nacionalmente Determinadas (NDCs). Disponível em: https://cop30.br/pt-br/sobre-a-cop30/contribuicoes-nacionalmente-determinadas-ndcs. Acesso em: 12 jun. 2025.
UNEP. Emissions Gap Report 2024. Disponível em: https://www.unep.org/resources/emissions-gap-report-2024. Acesso em: 16 jun. 2025.
WRI BRASIL. Mudanças climáticas alarmantes: veja 5 grandes resultados do relatório do IPCC. Disponível em: https://www.wribrasil.org.br/noticias/mudancas-climaticas-alarmantes-veja-5-grandes-resultados-do-relatorio-do-ipcc. Acesso em: 16 jun. 2025.
Autoria: Nayana Alves Pereira, CCARBON/USP
Pereira, N.A. Acordo de Paris: um marco global pela sustentabilidade climática. CCARBON/USP, 2025. Available at: <LINK>. Acesso em: DATA