Você sabia que as florestas brasileiras têm importância fundamental no sequestro de carbono atmosférico?
O Brasil, detentor de biomas diversos como a Amazônia, o Cerrado e a Mata Atlântica, desempenha um papel crucial na regulação climática global.
A Amazônia, por exemplo, abriga cerca de três milhões de espécies de plantas e animais. No entanto, o desmatamento acelerado ameaça esses ecossistemas
Nesse contexto, a restauração florestal, incluindo florestas plantadas — como áreas de eucalipto (Eucalyptus spp.) — emergem como uma solução. Estas áreas colaboram com a mitigação das emissões de carbono e restauram áreas degradadas.
Os sistemas florestais podem contribuir diretamente com os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) da ONU. Em particular, alinham-se aos ODS 15 (Vida Terrestre) e 13 (Ação contra a mudança global do clima).
Vamos entender melhor como os sistemas florestais podem auxiliar na reversão dos problemas causados pelo desmatamento.
Mudança no Uso da Terra e Emissões de Gases de Efeito Estufa (GEE)
Segundo o IPCC (2022), a mudança no uso da terra é a maior fonte de emissões de gases de efeito estufa no Brasil. Com a conversão de florestas nativas para agropecuária sendo a maior taxa.
Estudos demonstraram que existe uma ligação entre as mudanças climáticas e o desmatamento na Amazônia. Uma das razões seria a falta de regulamentações acerca da proteção dos recursos florestais.
Seguindo esse ritmo desenfreado, o desmatamento da Amazônia pode chegar a 56% até 2050. Levando em conta que, entre 2001 e 2022, o Brasil perdeu 48% de sua cobertura florestal, liberando 17.9 Gt de CO₂ equivalente.
E é importante considerar que essa perda florestal não só libera carbono estocado, mas também reduz a capacidade de resiliência climática.
Sistemas Florestais como Sumidouro de Carbono – Eucalipto
O eucalipto, amplamente cultivado no Brasil para fins comerciais, também apresenta alto potencial para sequestro de carbono quando manejado adequadamente. Estudos indicam que:
- Florestas de eucalipto podem acumular até 80 t C ha⁻¹ em 6 anos com variações dependendo do clima e solo.
- Sistemas de talhadia (rebrota de cepas após o corte) acumulam mais biomassa e carbono do que plantios convencionais. Os estoques de carbono em raízes podem atingir 17,7 Mg C ha⁻¹ em apenas cinco anos.
- Modelagens estimam estoques de carbono entre 26 e 288 t C ha⁻¹ em sistemas florestais com eucalipto, dependendo das condições edafoclimáticas.
O Eucalipto como Estratégia para Restauração
A restauração de áreas degradadas pode ser realizada de diferentes formas, com o eucalipto desempenhando um papel estratégico.
Uma possibilidade é a utilização do sistema de monocultivo. Comumente feito com grandes culturas, como soja e cana-de-açúcar, também é uma possibilidade para recuperar as áreas desmatadas ou degradadas.
É indicado principalmente para áreas de baixa aptidão agrícola, onde o eucalipto pode ser cultivado em rotações longas (7-10 anos) para maximizar o sequestro de carbono. Entretanto, por mais que essa técnica pareça simples, requer manejo sustentável. Por exemplo, é importante evitar a remoção total da biomassa e garantir a manutenção de matéria orgânica no solo.
Outra possibilidade são os sistemas silvipastoris e agroflorestais, feitos em consórcios com pastagens ou culturas agrícolas. Esses sistemas integrados aumentam a produtividade, diversidade biológica e conforto anima, além de reduzir a necessidade de novas áreas desmatadas.
O eucalipto pode ser integrado não somente a culturas agrícolas, mas também a espécies nativas. Essa configuração melhora a estrutura do solo e na manutenção do estoque de carbono.
Limitações e Desafios dos Sistemas Florestais
Apesar do potencial, as plantações de eucalipto apresentam desafios que exigem manejo cuidadoso. Alguns deles são:
- Solo ácido e pobre: As plantações de eucalipto tendem a esgotar nutrientes do solo exigindo correção e adubação adequadas.
- Baixo aporte de matéria orgânica: Caso seja realizada a remoção total da biomassa, ocorre a redução da matéria orgânica disponível.
- Risco de aumento de emissões: O corte raso, as queimadas e secas podem liberar até 50% do carbono estocado, reduzindo os benefícios climáticos da restauração da área.
Sistemas Florestais como Sumidouro de Carbono – SAFs
Os sistemas agroflorestais (SAFs) são outra técnica para conciliar produção agrícola e sustentabilidade. Eles combinam árvores, cultivos e animais em um mesmo espaço, diferenciando de ILPFs por não realizar rotações entre lavoura/pecuária. Outra questão é o tamanho das áreas implantadas, os SAFs comumente são aplicados em áreas de agricultura familiar, enquanto sistemas integrados ocupam grandes territórios.
Uma meta-análise revelou que a conversão de áreas agrícolas para agroflorestas aumentou os estoques de carbono orgânico do solo em até 1 m. Por exemplo, houve aumento de 40% de carbono na camada de 0–30 cm.
Já a conversão de florestas naturais para agroflorestas reduziu o carbono estocado, evidenciando que os ganhos são maiores quando a transição parte de sistemas menos complexos, como monocultivos agrícolas.
No Brasil, os SAFs são compostos por estruturas que “imitam” florestas naturais, e estas mostraram aumento do sequestro de carbono ao passar do tempo. Em áreas com 34 anos de implantação, o sequestro chegou a 13,5 Mg C/ha/ano, evidenciando o potencial desses sistemas como forma sustentável de produção.
Além do carbono, SAFs melhoram o solo, aumentam a biodiversidade e criam microclimas favoráveis. Eles também geram renda com produtos diversificados, como madeira e frutas.
Políticas Públicas e Recomendações
Programas de incentivo econômico são extremamente importantes para conscientizar a população e fornecer uma motivação para aderirem a esses sistemas. Alguns exemplos são o REDD+ e o Pagamento por Serviços Ambientais.
O primeiro é um mecanismo desenvolvido no âmbito da Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre Mudança do Clima (UNFCCC). Tem como objetivo reduzir as emissões de gases de efeito estufa provenientes do desmatamento e da degradação florestal em países em desenvolvimento. O sinal “+” em REDD+ representa atividades florestais adicionais que protegem o clima.
Outra alternativa, são os Pagamentos por Serviços Ambientais (PSA). Basicamente, o PSA é uma maneira de gratificar financeiramente os produtores rurais, comunidades e agricultores de modo geral, pela recuperação de serviços ambientais. Restaurar nascentes, recuperar pastagens degradadas e reflorestamento são algumas atividades que podem ser realizadas.
Estas ações, consequentemente, recuperam o ecossistema em que estão inseridas, trazendo benefícios não apenas para a fauna e flora, mas também para a comunidade.
Práticas Alinhadas à Sustentabilidade de Florestas
As florestas de eucalipto, quando integradas a políticas de restauração e manejo sustentável, podem ser aliadas estratégicas na mitigação das mudanças climáticas e na recuperação de áreas degradadas.
No entanto, sua eficácia depende de:
- Práticas de baixo impacto, como rotações longas e manutenção da biomassa.
- Combate ao desmatamento ilegal e incentivos à conservação.
- Inovação tecnológica, como modelos de previsão para otimizar o sequestro de carbono.
A combinação de restauração ecológica com viabilidade econômica pode incentivar os produtores a investirem na restauração de áreas degradadas. E, assim, podemos transformar o Brasil em um líder global em sustentabilidade florestal.
Referências:
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Autoria: Mariana Pezzatte Pollo, CCARBON/USP
POLLO, M. P. Sistemas Florestais: Uma Solução Baseada na Natureza para o Sequestro de Carbono. CCARBON/USP, 2025. Available at: <LINK>. Acesso em: DATA