Tecnologias e práticas que unem eficiência produtiva e cuidado ambiental para um futuro mais sustentável no campo
Você sabia que os sistemas integrados podem aumentar o estoque de carbono do solo, conservar as áreas de produção e, ao mesmo tempo, otimizar a produtividade?
A conversão de florestas em áreas agrícolas intensivas, com uso de queimadas e manejo indevido, tem intensificado os impactos ambientais. Estas atividades aumentam as emissões de gases de efeito estufa (GEE), degradam o solo e reduzem os serviços ecossistêmicos, principalmente em áreas de pastagem degradada.
A adoção de sistemas integrados, como integração lavoura-pecuária-floresta (ILPF), por exemplo, pode reverter esse cenário. No entanto, os benefícios ambientais oferecidos por estes sistemas dependem das escolhas de manejo, levando em consideração a vegetação e o clima do local. Quer saber mais sobre esse assunto? Continue lendo este texto.
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Mas, afinal, o que são os Sistemas Integrados?
Os sistemas integrados de produção agropecuária são estratégias de manejo que combinam lavoura, pecuária e floresta em uma mesma área. Os principais objetivos são: recuperar pastagens degradadas, aumentar a produtividade e otimizar os serviços ecossistêmicos.
Destacam-se quatro tipos principais:
- Integração Lavoura-Pecuária-Floresta (ILPF): Sistema que integra cultivos agrícolas, pastagens e florestas (ou espécies arbóreas de interesse ecológico ou econômico), implantados na mesma área. É considerado o sistema de maior complexidade entre os sistemas integrados, por agregar três componentes produtivos.
- Integração Lavoura-Pecuária (ILP): Sistema em que atividades agrícolas como cultivo de cereais e leguminosas e pecuária são integradas de forma sequencial, simultânea ou rotacionada, numa mesma área. Possui como principal objetivo maximizar a eficiência dos ciclos biológicos por meio da interação entre os componentes vegetal e animal, como o uso de resíduos orgânicos.
- Integração Pecuária-Floresta (IPF): Integra pastagens (produção animal) com espécies florestais, em consórcio, rotação ou sucessão. O foco é oferecer benefícios microclimáticos aos animais, como, por exemplo, promover conforto térmico.
- Integração Lavoura-Floresta (ILF): Consiste na integração entre cultivos agrícolas e espécies florestais numa mesma área. Este sistema busca aproveitar os efeitos ecológicos da floresta — como a melhoria da microclima, conservação do solo e aumento de biodiversidade — associados à produção agrícola.
A escolha do sistema e do tempo de uso de cada componente depende do objetivo produtivo e das características regionais. Assim, a integração torna-se uma ferramenta eficiente para uma agricultura mais resiliente.
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O uso de Sistemas Integrados para o sequestro de carbono
O uso de sistemas integrados de produção agropecuária tem demonstrado um papel fundamental no aumento da concentração de carbono no solo. A sua utilização atua na redução dos impactos climáticos e da degradação do solo.
Diversos estudos demonstraram que a conversão de pastagens degradadas para sistemas como ILPF pode aumentar significativamente o acúmulo de carbono.
Em um estudo que avaliou a recuperação de pastagens no Cerrado, esses ganhos foram observados nas camadas do solo, com aumento de até 212% nos teores. Além disso, o estoque de carbono orgânico no solo chegou a ser 146% maior nos sistemas integrados. Estes dados reforçam o potencial dessas práticas agrícolas para sequestrar carbono atmosférico e armazená-lo no solo ao longo do tempo.
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Estudos mostram que a introdução de árvores, como eucalipto, e gramíneas com alta biomassa e raízes desenvolvidas agregam no acúmulo de matéria orgânica no solo. A deposição constante de resíduo orgânico, na superfície e em profundidade, fornece materiais ricos em carbono ao sistema solo-planta. Esses materiais contribuem para a formação e estabilidade do carbono orgânico, promovendo a saúde e a fertilidade do solo ao longo do tempo.
Vantagens dos sistemas integrados na melhoria da Saúde do Solo
A adoção de sistemas integrados, como ILP, ILPF e IPF, tem aumentado significativamente o Índice de Saúde do Solo (ISS), especialmente em áreas de solos arenosos. Esse índice reúne indicadores físicos, químicos e biológicos, permitindo uma avaliação mais completa da funcionalidade do solo. Assim, é possível identificar as vantagens e desvantagens da adoção de diferentes tipos de manejo.
Algumas práticas comumente utilizadas são a inclusão de espécies forrageiras com raízes profundas, a manutenção de cobertura vegetal e o uso eficiente de resíduos orgânicos. Estas técnicas oferecem benefícios como o acúmulo de carbono orgânico, melhoria na infiltração e retenção de água e estimulo da atividade microbiana. Um dos fatores observados foi o aumento da biomassa microbiana e das enzimas β-glucosidase e urease em áreas com maior diversidade de espécies.
A associação de leguminosas como o guandu, com gramíneas e árvores (Eucalyptus urograndis) em sistemas silvipastoris, favorece a fixação biológica de nitrogênio. Essa combinação também contribui com a estrutura do solo em diferentes profundidades.
Esses fatores aumentam o ISS, indicando melhorias na estrutura do solo, na retenção de água e na ciclagem de nutrientes. Além disso, manejos adequados, como o controle da lotação animal e a diversificação de culturas, evitam a compactação e a degradação. A aderência à estas técnicas contribuem para um sistema produtivo mais resiliente e sustentável a longo prazo.
Desafios e oportunidades da implementação de Sistemas Integrados
Apesar dos inúmeros benefícios dos sistemas integrados para a saúde do solo e a sustentabilidade agropecuária, sua implementação em larga escala ainda enfrenta diversos desafios.
Barreiras como o tradicionalismo e a resistência à adoção de novas tecnologias dificultam a adesão de muitos produtores. Além disso, a exigência de maior qualificação técnica e os altos custos iniciais de investimento limitam a implementação em larga escala.
Programas como o Plano ABC+ (Plano de Adaptação e Baixa Emissão de Carbono na Agricultura) incentivam o avanço e a aderência de manejos mais sustentáveis. Entretanto, é fundamental ampliar os investimentos em pesquisa e capacitação para viabilizar a quantificação do sequestro de carbono e a redução das emissões de GEE.
Nesse contexto, pesquisadores do CCARBON/USP têm desenvolvido estudos e ferramentas para superar essas barreiras. Por meio de dados, soluções práticas e apoio técnico buscam colaborar com a adoção de sistemas mais sustentáveis no campo.
Considerações finais
Os sistemas integrados destacam-se por promoverem uma gestão mais eficiente da propriedade, estimulando práticas ambientais corretas e garantindo a diversificação da renda. Ao integrar a produção de grãos, carne, leite, madeira e outros produtos, esses sistemas aumentam a geração de empregos e a estabilidade econômica.
Estas estratégias de produção não apenas aumentam a produtividade, mas também promovem melhorias na saúde do solo, reforçando seu papel fundamental para a agricultura sustentável.
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