Agricultura Regenerativa: o caminho para uma produção sustentável

A agricultura regenerativa promove sistemas agrícolas sustentáveis, otimizando recursos e aumentando a produtividade agrícola


 

As mudanças climáticas trazem desafios críticos para a segurança alimentar e para o clima, reduzindo a produtividade agrícola e aumentando os riscos na produção. Para vencer esses desafios, a agricultura regenerativa surge como uma estratégia essencial para melhorar a saúde do solo e aumentar a produtividade das culturas. Além disso, ela é capaz de promover o sequestro de carbono orgânico no solo (SOC) e fortalecer a resiliência e mitigação da agricultura diante das mudanças do clima.

Diante disso, pesquisadores do CCARBON/USP em parceria com outras instituições desenvolveram um plano para promover a agricultura regenerativa em larga escala no Brasil. O projeto conduz pesquisas em uma rede científica colaborativa multidisciplinar sobre agricultura regenerativa.

Esse programa de parceria público-privada, conhecido como Carbon Farming, visa avaliar os benefícios da melhoria na condução de terras agrícolas. Essa abordagem envolve estratégias de diversificação de culturas com plantas de cobertura e a avaliação do sequestro de carbono, emissões de gases de efeito estufa (GEE), saúde do solo e produtividade das culturas.

Quer saber mais sobre esse assunto? Continue conosco e entenda como essas práticas podem contribuir com sistemas agrícolas mais sustentáveis.

O programa Carbon Farming e a agricultura regenerativa

A agricultura regenerativa tem ganhado destaque como uma abordagem sustentável para enfrentar os desafios das mudanças climáticas e da degradação dos solos. Ela promove práticas que restauram a saúde do solo, aumentam a produtividade agrícola e capturam carbono da atmosfera. Nesse contexto, um programa liderado pela Bayer SA em parceria com o CCARBON/USP e outras instituições é um exemplo de sucesso na promoção dessas práticas na agricultura tropical. O programa, conhecido como Carbon Farming, integra ciência e inovação para transformar o setor agrícola no Brasil.

São 11 instituições parceiras, incluindo universidades, centros de pesquisa e organizações de agricultores, que criam uma rede multidisciplinar voltada ao avanço de práticas agrícolas sustentáveis. O programa conta com a participação de 1.906 agricultores e uma área abrangendo 232.000 hectares em diferentes características de solo e clima. São avaliados impactos positivos de práticas como manejo do solo, sistemas de plantio direto, rotação e diversificação de culturas e uso de plantas de cobertura.

E como isso é realizado?

Trabalhando em diferentes níveis, o programa combina pesquisa científica, experimentos realizados diretamente em fazendas e implementação em larga escala, promovendo resultados sólidos e replicáveis. Um dos destaques da iniciativa é o desenvolvimento de um modelo matemático inovador, projetado para prever a dinâmica do SOC em agroecossistemas tropicais.

São vários ensaios conduzidos, incluindo aqueles de curto, médio e longo prazo que variam de menos de 5 até mais de 20 anos de duração. Eles estão localizados em importantes regiões produtoras de grãos do país, com condições distintas de solo, clima e manejo. Os pesquisadores, que são especialistas em carbono, pertencem a universidades públicas, fundações de pesquisa e à Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa). Ao testar diferentes opções e modelos de agricultura regenerativa, as práticas utilizadas são rotação de culturas, misturas de culturas de cobertura, sistemas agrícolas integrados, entre outras.  São avaliados os impactos no balanço de C, ou seja, sequestro de C do solo e emissões de GEE, rendimento das culturas e retornos econômicos.

Essa ferramenta ajuda em decisões mais precisas e fortalece a agricultura brasileira no mercado global de carbono, unindo práticas sustentáveis com maior competitividade econômica. São esforços que focam em benefícios cruciais, como SOC, melhoria da saúde do solo e, consequentemente, no rendimento das culturas.

Agricultura regenerativa se expande em vários países do mundo

Programas de agricultura regenerativa de baixo carbono estão sendo projetados e implementados em todo o mundo. Por exemplo, a National Corn Growers Association (NCA), sediada nos EUA, apoia a Soil Health Partnership. Nele, mais de 200 agricultores conduziram testes em 9 estados para comparar práticas de agricultura de conservação ao longo de 5 anos. A Comissão Europeia por meio dos “Ciclos de Carbono Sustentáveis” promoveram iniciativas para incentivar os setores agrícola e florestal a adotarem práticas favoráveis ​​ao clima.

São vários os benefícios que a adoção dessas práticas pode resultar.  Dentre eles, maior biodiversidade, favorecendo o crescimento da população de predadores naturais e o controle de plantas daninhas; ciclagem de nutrientes aprimorada; maior disponibilidade de água no solo e; aumento de sequestro de C no solo. Esses aspectos são a base para melhorar a saúde do solo e tornar o sistema mais eficiente e menos dependente de insumos externos. Além disso, podem proporcionar maiores retornos econômicos, o que torna a agricultura regenerativa uma estratégia para reduzir as GEE.

A agricultura regenerativa e seu papel no desenvolvimento sustentável

Essas práticas de agricultura regenerativa do programa Carbon Farming se enquadram em, pelo menos, sete dos dezessete Objetivos do Desenvolvimento Sustentável das Nações Unidas (ODS). Dentre eles, o ODS 1, erradicação da pobreza; o ODS 2, fome zero e agricultura sustentável; o ODS 3, saúde e bem estar; o ODS 7, energia limpa e acessível; o ODS 12, consumo e produção responsáveis; o ODS 13, ação contra a mudança global do clima e; o ODS 15, vida terrestre.

Tais conexões evidenciam como a agricultura regenerativa vai além da produção de alimentos, atuando como uma estratégia integrada para promover o desenvolvimento sustentável. Ao regenerar solos, conservar recursos naturais e mitigar as mudanças climáticas, essa abordagem contribui diretamente para a melhoria da qualidade de vida na Terra. Contudo, o programa Carbon Farming, possui uma perspectiva holística que contribui com práticas de gestão dos fatores ambientais nos contextos culturais, políticos e socioeconômicos.

Principal fonte:

Cherubin MR, Pinheiro Junior CR, Alves LA, et al. Carbon farming initiative: a national-scale public-private partnership to promote regenerative agriculture in Brazil. Experimental Agriculture. 2024;60:e28. doi:10.1017/S0014479724000255